
Não deves recusar o esforço, porque ele é um caminho...
Num lugar que terás de descobrir, que fica sempre alto e longe... Existe para ti uma lagoa meio escavada na rocha, com relva muito verde nas margens, onde podes ouvir o canto alegre de pássaros calmos.
Encontram-se lá os que amas, fortes e generosos. Sorridentes.
Há sol e também a sombra de altas árvores. Por cima, apenas o céu, à distância de um último salto.
Não é um destino inevitável, mas um lugar onde és esperada e que podes, ou não, alcançar, conforme a medida do teu desejo. Só quando lá chegares terás alcançado toda a tua envergadura. Só lá te encontrarás contigo mesma.
Existes para chegar a esse lago. Os teus olhos são capazes de pousar nas suas águas limpas, que reflectem o céu que lhes está por cima.
Não se pode querer mal aos caminhos que conduzem a lugares assim, embora sejam escarpados e se torne impossível evitar ferimentos e cansaços quando se segue por eles.
Se o teu desejo de chegar for grande, nenhum esforço te parecerá demasiado penoso. E, embora vás a caminho, terás sempre contigo qualquer coisa que é já de ter chegado. Talvez uma certa forma de olhar, resultante daquela luz que se acende por dentro quando nos pomos a caminho dispostos a tudo o que aparecer.
E nem haverá problema se a morte te encontrar assim, ainda no gesto de subir... Já tens em ti o teu lago, na imagem dele que te fez partir.
Não deves recusar a dor, porque ela constrói-te, marca-te os limites e faz-te crescer por dentro dos teus muros.
Sem ela, não passarias de um projecto da mulher que hás-de ser. Ela edifica-te os músculos, a cabeça e o coração... não existe outra maneira de chegares a ser aquilo que deves vir a ser.
Se não sofresses não haveria ninguém dentro de ti.
No cumprimento sério dos teus deveres, encontrarás a dor na forma de esforço e de cansaço.
Mas pode muito bem ser que, tarde ou cedo, ela te procure sem disfarces e te faça chorar ou gemer. É frequente que ela se apresente assim, numa nudez que parece cruel e faz lembrar facas ou agulhas.
Nem por isso te deves assustar ou desistir.
Quando te parecer que tudo está perdido, sorri, se puderes. É que estão a oferecer-te um degrau que te deixará incomparavelmente mais acima no caminho. Deves ver nisso o sinal de que, por qualquer razão, é tempo de andares mais depressa.
Sobretudo, não te queixes. Há assim metamorfoses que parecem aniquilar, mas não passam de formas de fazer surgir a borboleta.
Não te queixes, porque receberás umas asas e cores novas.
O teu lago, de onde de tão perto se pode olhar o céu, tem um preço... Que tu saberás dar e não é tão grande assim!!!